terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Da Tutoria



Saúde Coletiva - 4º semestre


Um pouco da história da visita domiciliária no Brasil
No inicio da Tutoria IV, entre os materiais disponibilizados para estudos, recebemos um interessante artigo escrito por Edirlei Machado dos Santos e Débora Isane Ratner Kirschbaum sobre " A trajetória histórica da visita domiciliária no Brasil"1.
O texto, que é uma revisão bibliográfica nos informa que:
A visita domiciliária no Brasil teve como marco inicial, um artigo publicado em 15 de outubro de 1919 pelo "O Jornal", no qual o Dr. J. P. Fontelle abordava a educação sanitária e a real necessidade da formação de enfermeiras visitadoras, sugerindo já naquela época, a criação deste serviço que tinha como objetivo a prevenção.
No ano de 1921, Carlos Chagas traz ao Rio de Janeiro um grupo de enfermeiras americanas com a finalidade de desenvolver um curso para treinamento de visitadoras que deveriam prestar a assistência nos domicílios. Este curso se transformou, alguns anos depois, na Escola de Enfermagem Ana Nery.
Em 1942, resultado de um convênio entre o governo norte americano e o brasileiro, foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP).  O SESP, por sua vez, criou o curso de visitadoras sanitárias, instituído com o propósito de treinar pessoal   para exercer atividades de saúde pública nos domicílios e nos Postos de Higiene, estabelecidos e mantidos pelo SESP no Programa da Amazônia. Este serviço foi expandido para mais 12 estados brasileiros. A maioria nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Também nesta época, para melhorar as condições das habitações os agentes do SESP sugeriram para o interior da casa, o reboco das paredes, a colocação de pisos, a melhoria da cobertura da casa, melhoria das condições de iluminação e ventilação pelo aumento do pé direito e pelo aumento das dimensões das janelas.
Nas décadas de 50 a 70, a visita domiciliária, como serviço de prestação de assistência à saúde das pessoas, não se destacou, devido ao contexto político, econômico e ideológico que contribuía para este cenário onde o sistema de saúde era perverso, considerando que saúde naquele momento histórico ainda não era direito de todos nem ao menos dever do Estado.
Criado em 1953 o Ministério da Saúde, embora seja um marco importante para os serviços de saúde no Brasil, não conseguiu na época melhorar o acesso aos serviços de saúde. A situação piorou com o golpe militar da década de 60 onde, devido ao descaso e despreocupação dos governantes, grandes epidemias voltaram a atingir o país.
No final dos anos 70 e início dos anos 80 com o agravamento das carências sociais, e a consequente inquietação popular, principalmente nos grandes centros urbanos, surgiram vários movimentos reivindicatórios, dando início ao Movimento da Reforma Sanitária que buscava garantir uma assistência universal, integral e equânime para toda população brasileira.
Em 1990 é fundado o SUS e logo após, em 1991 nasce o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) para assistir aos usuários do SUS de forma mais organizada e próxima.
E o texto nos faz ver que nos serviços de saúde de hoje, principalmente no PSF, é possível perceber características das visitas domiciliares do início do século passado.
A visita domiciliária nos serviços de saúde no Brasil, atualmente é empregada em larga escala, como instrumento de trabalho dos trabalhadores das equipes do PSF.


Referência:
 1A trajetória histórica da visita domiciliária no Brasil: uma revisão bibliográfica, Revista Eletrônica de Enfermagem. 2008;10(1):220-227. Encontrável em: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n1/v10n1a20.htm

Aprender




https://www.youtube.com/watch?v=Pz4vQM_EmzI

quinta-feira, 20 de novembro de 2014






Saúde Coletiva - 3º semestre

Para retomar o blog e, aproveitando o tema da tutoria desse semestre, achei interessante socializar o texto abaixo(1)

Comunicação e Saúde(1)

Janine Miranda Cardoso
Inesita Soares Araújo
Comunicação e Saúde é um termo que indica uma forma específica de ver, entender, atuar e estabelecer vínculos entre estes campos sociais. Distingue-se de outras designações similares, como   comunicação para a saúde, comunicação em saúde e comunicação na saúde. Embora as diferenças pareçam tão sutis que possam ser tomadas como equivalentes, tenhamos em mente que todo ato de nomeação é ideológico, implica posicionamentos, expressa determinadas concepções, privilegia temas e questões, propõe agendas e estratégias próprias.
Como ponto de partida, o conectivo quer acentuar a articulação entre campos sociais, entendendo campo como um espaço estruturado de relações, no qual forças de desigual poder lutam para transformar ou manter suas posições (Bourdieu, 1989, 1996, 1997). Campos sociais são historicamente constituídos e atualizados em contextos e processos sociais específicos que, ao mesmo tempo, envolvem e extrapolam suas fronteiras, mas sempre movidos por disputas por posições e capitais materiais e simbólicos. Fronteiras porosas por onde transitam agentes, discursos, políticas, teorias e expandem ou contraem relações, capitais, conflitos, enfim, interesses de diferentes ordens.
O termo Comunicação e Saúde, portanto, delimita um território de disputas específicas, embora atravessado e composto por elementos característicos de um, de outro e da formação social mais ampla que os abriga. Trata-se de um campo ainda em formação, mas como os demais constitui um universo multidimensional no qual agentes e instituições desenvolvem estratégias, tecem alianças, antagonismos, negociações. Essa concepção implica colocar em relevo a existência de discursos concorrentes, constituídos por e constituintes de relações de saber e poder, dinâmica que inclui os diferentes enfoques teóricos acerca da comunicação, saúde e suas relações. Contrapõe-se, assim, a perspectivas que reduzem a comunicação a um conjunto de técnicas e meios a serem utilizados de acordo com os objetivos da área da saúde, notadamente para transmitir informações de saúde para a população.

A formação do campo
O que hoje denominamos Comunicação e Saúde resulta, então, da associação de campos que, embora irredutíveis um ao outro, possuem um longo histórico comum de agenciamentos. Podemos tomar como marco a institucionalização das práticas de comunicação, com a criação, em 1923, do Serviço de Propaganda e Educação Sanitária, no interior do Departamento Nacional de Saúde Pública, ainda no contexto do que se tornou conhecido como Reforma Carlos Chagas. O serviço abriu espaço para as atividades que buscavam a adesão da população para as medidas preconizadas pelas autoridades sanitárias, voltadas principalmente para a higiene pessoal e pública, saúde da criança e da mulher gestante. A ascensão do modelo bacteriológico – com a descoberta de agentes patológicos específicos para cada doença e processos de transmissão – contribuiu para a ênfase crescente nas medidas individuais de higiene, enquanto as medidas mais abrangentes sobre as condições socioambientais foram paulatinamente secundarizadas. À época, educar, higienizar e sanear eram as palavras de ordem, profundamente articuladas ao intenso debate sobre o projeto nacional. Isso não significou, contudo, a eliminação das medidas coercitivas, características das campanhas sanitárias do início do século XX, cujas grandes resistências potencializaram vários movimentos, que culminaram na Revolta da Vacina (Cardoso, 2001).
Desde então, atravessando diferentes conjunturas sociais, políticas e sanitárias e relacionando-se com distintas formas de conceber o processo saúde-doença, a comunicação passou a habitar as atividades de saúde, principalmente relacionadas às ações de prevenção, chamada a lutar contra a ‘ignorância’, espécie de vala comum que passou a receber toda e qualquer resistência às medidas sanitárias.
No entanto, as práticas de comunicação nunca representaram a utilização de instrumentos supostamente neutros, mas expressaram também a convergência entre determinados modelos e concepções de ambos os campos. Assim, no sanitarismo campanhista das primeiras décadas do século XX predominaram as práticas de difusão de medidas de higiene, ancoradas em teorias de comunicação de fundo behaviorista, que estabeleciam uma relação causal e automática entre estímulo e resposta: uma vez exposto a uma mensagem, o indivíduo – o ‘público-alvo’ – reagiria de acordo com os objetivos do emissor. No período entre guerras, com Vargas, o Brasil experimentou uma inédita política de comunicação governamental, importante na tessitura ideológica do novo regime, da nova nação e do novo homem brasileiro. Estimulados pela visão mundial da propaganda como eficaz ferramenta na “gestão governamental das opiniões” (Lasswell apud Mattelart e Mattelart, 1999, p. 37), foram criados diferentes setores de comunicação e educação nos ministérios, inclusive o Serviço Nacional de Educação Sanitária (SNES), em 1941, com o objetivo de padronizar metodologias e difundir maciçamente informações sobre questões de saúde.
Após a segunda guerra mundial, no contexto de interiorização do desenvolvimento econômico e de aceleração da urbanização, a comunicação foi chamada a desempenhar um papel estratégico na arrancada desenvolvimentista: criar o ‘clima’ propício para a adoção dos ‘modernos’ padrões da sociedade industrial capitalista. Em plena guerra fria e sob os auspícios de instituições internacionais, esse movimento se deu nos países periféricos na órbita de influência dos EUA, privilegiando as áreas da educação, saúde, agricultura, extensão rural e serviço social. No campo da saúde, duas instituições tiveram destacada atuação: o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), criado em 1942, no âmbito do esforço aliado de guerra, e o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu), criado em 1956, com o objetivo de estender o atendimento médico-sanitário de massa em áreas consideradas economicamente estratégicas. Atuavam em regiões geográficas distintas, com metodologias específicas de trabalho e priorizavam diferentes grupos etários, mas ambas investiram na mobilização das comunidades e foram agentes da comunicação para o desenvolvimento que preconizava uma relação causal e mecânica entre os dois termos.
O campo da comunicação não ficou imune, naquele momento, ao intenso processo de produção científica e tecnológica. Na saúde e em outras áreas de intervenção social, repercutiu amplamente o modelo comunicacional inspirado na teoria dos dois fluxos de comunicação, que atribuía um papel fundamental às lideranças comunitárias, consideradas ‘elos-chave’ na busca de maior sintonia entre emissor (autoridades) e receptor (população). Essa foi uma inovação teórica e metodológica significativa na matriz transferencial, que conferiu relevância ao universo cultural e às relações sociais de uma dada comunidade, mediações que tornaram o processo comunicacional menos linear e automático. Não se rompeu, contudo, com a unidirecionalidade e a comunicação continuou a ser vista fundamentalmente como a transmissão de informações de um pólo emissor a um pólo receptor. Essa abordagem encontrou eco, particularmente no quadro de uma concepção restrita e regulada de participação comunitária, potencializando os enfoques da saúde que privilegiavam os saberes biomédicos e atribuindo às instituições de saúde a exclusividade da fala autorizada. Desde então, várias iniciativas de mobilização comunitária para a agenda sanitária têm lançado mão dos pressupostos desse modelo, que fundamenta algumas características do perfil do agente comunitário de saúde e de seu trabalho.
A década de 60 trouxe vigorosos debates, tanto na saúde como na comunicação, em torno da mudança dos modelos vigentes. Contribuíram bastante para isso as críticas ao viés extensionista, simultâneas à emergência das teses freireanas, que introduziam uma perspectiva histórica, cultural, humanista e dialógica, tornando irrecusável considerar relevantes os saberes e as percepções da população sobre sua própria realidade de saúde. Mas, todo esse movimento, incluindo a forte crítica ao desenvolvimentismo, foi interrompido pelo golpe militar. Durante a ditadura, sob a égide da censura, se dá o investimento concentrado na assistência médico-hospitalar, configurando-se o modelo médico-assistencial privatista. Nele, as atividades preventivas e de saúde pública – incluindo as de educação e comunicação – foram relegadas a um remoto segundo plano nas ações governamentais. Nas telas da recém-nascida televisão, saúde passou a ser crescentemente associada à compra de bens e serviços oferecidos pelo mercado. Para tanto, o regime militar contou com a notável expansão dos meios de comunicação e a constituição de um sistema complexo de informação e de cultura de massa, em que a televisão passou a ser o principal meio de difusão. No contínuo e progressivo investimento em propaganda no Brasil, o Estado já despontava aí como um dos maiores anunciantes.
Nesse período, o mesmo movimento que buscou silenciar qualquer oposição ao regime militar favoreceu a separação das práticas de comunicação e educação nas instituições de saúde, com a respectiva especialização de atividades e perfis profissionais. Nos ministérios e instituições governamentais foram criadas as coordenadorias de comunicação social e os serviços de informação, estes últimos vinculados ao Serviço Nacional de Informações (SNI). Na saúde, atendendo ao reordenamento da administração pública, segundo as normas de planejamento normativo, os setores de educação para a saúde ficaram vinculados às áreas técnicas de cada programa, e as coordenadorias de comunicação ficaram diretamente ligadas aos gestores, passando a responder pela relação com os órgãos de imprensa.
O contexto de consolidação do modelo de saúde centrado no hospital, na dimensão curativa e na mercantilização da atenção é também o de sofisticação dos modelos da matriz transferencial de comunicação e, de forma mais abrangente, da escalada hegemônica da publicidade. De lá para cá, em escala mundial, se deu a intensificação do desenvolvimento tecnológico, marcadamente de informação e comunicação, com a penetração da televisão e da mídia em todos os setores das sociedades ocidentais, delineando novos padrões de consumo. Tecnologia aqui deve ser entendida em sentido amplo e em suas diversificadas conexões com a economia, cultura, formas de sociabilidade e temporalidades. Alguns autores, considerando a magnitude das mudanças sociais relacionadas à informatização e expansão das redes mundiais de comunicação, têm chamado esse processo de midiatização da sociedade, que repercute cada vez mais nas instituições de saúde (Fausto Neto, 2007; Sodré, 2006).
É importante não perder de vista, porém, que os modelos de comunicação não se sucedem de forma cronológica e linear, mas coexistem em diferentes configurações, atravessados por variáveis socioeconômicas e culturais, além daquelas mais afeitas à dinâmica do campo da saúde, como o quadro epidemiológico, as concepções e estratégias de assistência, prevenção e promoção. Por outro lado, embora a matriz transferencial nunca tenha sido seriamente ameaçada no âmbito das instituições e programas de saúde, sempre esteve tensionada por disputas, oposições e propostas contra hegemônicas, em geral inspiradas em Paulo Freire e nas teorias críticas de comunicação (Fiocruz, 1998; 1999).

Referências:
(1) Dicionário da Educação Profissional em Saúde (2009), encontrável em: http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/comsau.html

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Os Forte, by Michelle





Festa dos bichos 2013-2